segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O «Teu Jardim»

Triste memória
do que foi um lindo jardim
com uma palmeira,
uma glicínia
que cresce abandonada.
A buganvília decepada
que sobrevive
e deixa que brotem ramos
desalinhados,
quais tentáculos
sacudidos pelo vento
procurando sustentação,
quase roçando o chão
de terra seca e pisada
que há muito não vê enxada,
onde abundam as daninhas,
morangos selvagens
pontos vermelhos
mirrados,
pela erva espalhados.
A pequena azálea
que resiste
com ar triste
na sombra
feita dos ramos
emaranhados
da glicínia.
Meu amigo,
já olhaste bem
para aquele chão?
a pedir para ser semeado,
plantado,
implorando para ser regado
que lhe tirem o ar desmazelado,
tantos anos de pousio
está mais que preparado
para receber as sementes,
os bolbos,
os rizomas,
um relvado,
uma cerca
que o proteja do cão,
tua grande aflição....
porque desistes,
de refazer o jardim?
Insistes em chamar-lhe logradouro
quando daquele pedaço de terra
podias fazer um tesouro!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Fritz, o Atento

Foto de Carlos Romão














Sendo animais magníficos e meus companheiros, o Senhor Fritz e a Dona Tita terão um lugar de destaque aqui no blogue.
Novata nestas andanças, e porque sou aselha, sem querer apaguei dois «posts». Peço as maiores desculpas a quem me lê, e a quem comentou.
Aqui estão eles de novo: «No Miradouro da Arrábida» e, abaixo, «Um Dia de Outono».

No «Miradouro» da Arrábida

Foto de Carlos Romão













Miradouro da Arrábida,
sítio singular
descoberto por acaso,
num fim de tarde
dum Outono quente.
Sentada,
nesta bancada privilegiada,
sob eucaliptos frondosos,
observo, enlevada
a imensa paisagem;
o rio Douro,
a Afurada,
o mar,
o sol alaranjado
navegando para o ocaso.
Desce, lentamente
a neblina
num véu ténue,
envolvente,
mudando todo o cenário.
Num instante,
fica escuro,
toda a paisagem adormece.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Um Dia de Outono















Entardecer de um dia de Outono. Quebro o silêncio, num som crepitante, ao pisar as folhas secas, estaladiças. Percorro a alameda de plátanos imponentes, de fustes monumentais sustentando uma abóbada ogival, de catedral gótica construída de ramos entrelaçados de infinitas folhas, de tons castanho, amarelo e dourado, que mais parecem estrelas cadentes soltando-se, num movimento rodopiante de eterno bailado, acrescentando-se ao magnífico tapete, fofo e leve que cobre de beleza todo o relvado.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A Dona Tita e o Senhor Fritz

Foto de Carlos Romão













Ela, elegante no seu pardo casaco de peles, ágil e muito delicada.
Ele, de vestimenta amarela, gordinho, muito traquina e exímio roedor de fios.

domingo, 23 de novembro de 2008

O Jardim do Pomar

Onde está o jardim?
Nada disto era assim!...
Que lhe aconteceu,
como é isto possível,
desapareceu!?
Não, não pode ser,
não há nada aqui
que o faça lembrar?!
Onde está a figueira…
e, a japoneira?
Como era linda…
baixinha,
com todas aquelas flores brancas…
era ali o sítio dela!...
Serão estes ramos secos
o que resta da árvore tão bela!
amarrada,
aprisionada,
asfixiada,
pelo imenso silvado
que se estendeu por todo o lado…
das flores, nem vestígios
provavelmente as primeiras
a sucumbir.
O lilás, a noveleira,
não estão,
e as roseiras, também não,
não resistiram…
aliás, nem se vê o chão!…
Sobrou algum buxo,
o tronco da amoreira,
uma ou outra videira,
decadente, desmazelada.
Morreu também a macieira
ah, ainda sobrevive um castanheiro,
não o velho que conheci,
esse morreu,
mas sim, um novo
que entretanto cresceu.
Resiste o portão de ferro
que se mantém ferrugento,
como sempre o vi.
Que guarda agora,
um silvado?
Triste fado…
…Prefiro que guarde a memória,
do que foi o «meu» jardim…

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Mar

Na Praia

Fui passear
na praia,
descalça, pela areia
branca, macia
que meus pés afaga
numa carícia
lânguida,
demorada,
retardando
a minha chegada à água
límpida,
fria
que me arrepia.
Mas não resisto
ao apelo de me molhar,
com algum desvelo,
não vá escorregar
em algum rochedo
adornado de translúcidas algas
num bailado harmónico,
ao capricho da maré.
Detenho-me
ali de pé
contemplando as anémonas
quais flores,
adejando ao vento
num repetido movimento.
Deixo-me arrastar
pela água do mar,
sem oferecer resistência
a um afago envolvente,
entrego-me,
vou na corrente…

domingo, 16 de novembro de 2008

A Despedida de Uma Tarde

Despede-se a tarde
cálida e lenta
empurrando o sol
para trás do mar
talvez numa tentativa de o afogar!
Indiferente
desliza suavemente
redondo
ardente
tingindo de laranja
um céu de nuvens azul chumbo.
Ainda o sol não caiu
no mar sereno e quieto
e já a lua surgiu
apressada
plena
branca na sua nudez.
Sento-me
numa qualquer esplanada
enlevada
alheia a quem me rodeia
para desfrutar o momento
de tanta beleza
que sempre me encanta
jamais me cansa.
Sinto um arrepio
que não é de frio
mas sim de emoção
por um dia
de final de Verão...

Floresta Nua

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Desalento

Quebraram-lhe o coração,
em cacos pequenos,
de tão pequenos,
não se pode reconstruir.
Estriparam-lhe a alma,
ou a roubaram,
ou foi ela que a perdeu
não viu,
não deu por nada,
estaria a dormir?
Resta agora
um envoltório,
esvaziado,
frágil.
Porque não o leva o vento,
para a sumidade do firmamento?
Perdê-lo, na vastidão do oceano
quiçá nas areias do deserto!?
Sobeja agora dor,
remanesce sofrer…
Para quê, viver?
…Queria ela, saber morrer…

domingo, 9 de novembro de 2008

Na Casa do Mosteiro

Recordo com saudade,
a Casa do Mosteiro,
onde nasci.
Na parte desabitada
que servia de palheiro,
brincava eu, o dia inteiro.
O chão esburacado,
de palha tapado,
fazia as minhas delícias;
Saltos, correrias,
travessuras e tropelias.

Na parte virada a sul,
via eu, um céu azul
através das friestas
que para mim eram janelas,
de todas, as mais belas,
por onde trepavam heras
de lindas folhas verdes,
fixando-se às paredes
amareladas, de granito.
Como tudo era bonito!…

E aquele odor,
libertado pela palha,
acentuado pelo calor,
do sol que se infiltrava
pelos buracos do telhado,
alongando-se pelo chão.
Que saudade da leve fragrância
que me ficou desde a infância,
uma bela sensação,
que lembro com emoção.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Desolação

Na frente da minha janela
tinha uma cortina tão bela
de árvores feita.
Embora não sendo perfeita,
era uma mancha tão verde
que mais parecia uma parede.
Eucaliptos, sobreiros,
carvalhos, pinheiros
e outra vegetação;
giestas, fetos,
rosas
e flores campestres.
Uma mancha tão pequena
mas que valia bem a pena,
ocultava aquela estrada
de que eu não gosto nada,
troço desnecessário
neste nó rodoviário.
Apesar das árvores serem poucas
davam abrigo a pássaros;
pegas, gaios,
melros e poupas,
alguns insectos
e bonitas borboletas.
Mas os homens cruéis
interesseiros insensíveis,
trazem máquinas, serras
e uma grua,
num instante a mata fica nua
deixando ver a imensa rua,
o trânsito a poluição
que me faz grande aflição.
Acabou o sossego,
agora a paisagem mete medo,
cheia de pó
que faz dó,
devastada,
deixa-me destroçada.

sábado, 1 de novembro de 2008

No Douro

Fui de passeio ao Douro
região que é um tesouro.
Montanha
mais montanha
até perder de vista
que paisagem tão bonita
de escadaria infinita
de socalco em socalco
fazendo do rio um palco
qual teatro romano
onde nunca cai o pano.
O rio esse está vazio
de barcos rabelos
pena não pude vê-los.
Está a montanha sozinha
coberta de vinha
alguma amendoeira
uma ou outra laranjeira
e também oliveira
plantada no mortório
para apagar a memória
da praga filoxera
que fez história
no Douro vinhateiro
quase matando
a vinha por inteiro.
Subo a este ponto alto
miradouro natural
de paisagem fenomenal
é de suster a respiração
causa até certa emoção
tanta encosta
repleta de vegetação
como se um tapete
de diverso padrão
cobrisse todo o chão.
Para completar
todo este belo cenário
eis que pára no Pinhão
o comboio centenário
uma bela composição
que atrai a população
enquanto se abastece de carvão
solta um silvo agudo
entre nuvem de vapor
que se espalha
pela redondeza
num quadro
de grande beleza.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O Eléctrico # 1

No Molhe de Felgueiras

Dirijo-me para o farol,
de bicicleta,
pedalo pelo molhe
sobre a pedra incerta
de granito rompido
pelo mar salgado.
Desço,
debruço-me no paredão,
como o mar está lindo!
Visto assim,
daqui de cima,
tão cheio,
imenso,
sereno,
movendo-se ociosamente
num vaivém líquido
de um volume desmedido,
transparente,
deixa ver um fundo
de areia dourada
com reflexos turquesa…
vestiu-se assim,
para me receber,
com certeza !
Demoro-me, maravilhada,
nesta amurada debruçada,
como se de um navio se tratasse,
e por este mar, eu navegasse…