segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Natal na Casa do Ronco

Do Natal na Casa do Ronco, apenas tenho na memória o seguinte:

Percorrer o pinhal, com o tio Amadeu, à procura dos sítios mais húmidos e escondidos - aqueles onde ninguém, no seu perfeito juízo se atreveria a ir; na Cova dos Carolos, na Devesa, na Pedreira do Quarteirão e na do Choupelo. Andar por entre o tojo e silvas, para apanhar o musgo mais perfeito e de vários tons de verde, cogumelos pequeninos, fetos e outras plantinhas para decorar.
O presépio ficava numa mesa da Sala de Baixo: estendia-se o musgo, umas pedras para fazer as montanhas, as plantinhas, o azevinho, a cabaninha de pauzinhos de sobreiro com cobertura de colmo e o caminho, feito com farinha do moinho lá de casa que indicava aos Reis Magos o local onde estava o Menino Jesus. No final colocavam-se as figuras.

A fogueira na lareira com um só tronco que ardia pela noite dentro.

Não me lembro do bacalhau, mas tenho bem presente o sabor das rabanadas e do leite-creme.

As brincadeiras, o jogar ao rapa - uma piasca de madeira, de quatro faces, onde estavam pintadas a lápis roxo, as letras "T" "D" "R" "P" (tira, deixa, rapa e põe), feita pelo tio Amadeu. Ele é que fazia a piasca, as regras e também arranjava maneira de ser sempre ele a ganhar e a ficar com os pinhões todos.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A curiosidade da Krishna

Era uma vez uma menina morena, de cabelo encaracolado, magrinha, muito curiosa e a quem chamavam Krishna Menone.
(Um dia, ainda vou contar porque lhe chamavam assim!)

Sempre que podia esgueirava-se para a Casa do Ronco. Esperava que toda a gente saísse para o campo e enfiava-se na salita do tio Zé Velho, onde havia uma escrivaninha e uma estante de madeira com portas envidraçadas, bem fechadas à chave, que deixavam ver livros de todos os tamanhos e grossuras. Do que ela gostava mais era de dois volumes de enciclopédias, encadernados a vermelho. Eram livros grandes e pesados que estavam numa das prateleiras mais altas. Para lhes chegar era preciso encontrar a chave que costumava estar numa das muitas gavetas que por ali havia e que o Tio Zé pensava ter bem escondida, não lhe valia de nada, a Krishna encontrava-a sempre…
Depois era só puxar os pesados volumes, impressos a preto e branco, e uma ou outra folha a cores. Das muitas páginas dos dois volumes a menina via e revia apenas as que mostravam a flora e a fauna, assuntos que muito lhe interessavam.

Num deles tinha borboletas, muitas borboletas coloridas grandes e pequenas. No meio das páginas centrais, havia uma grande, de asas alongadas de cor amarela, preta e azul que ocupava quase toda a altura da página. Por baixo de cada uma delas estavam os nomes numa escrita que a menina não sabia ler. Entre todas as borboletas, gostava especialmente de uma pequenina, muito azul que ficava quase escondida entre as outras.
Havia as bandeiras de diferentes países, muito coloridas, com riscas, estrela e luas. A página das penas de aves e a dos cogumelos.

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O que a Krisnha mais gostava de observar, eram os cogumelos - comestíveis e venenosos – de diversas cores e «chapéus» de diferentes formatos. Passava tempos infinitos a admirá-los, o livro até já abria naquela folha! Bem no centro da página, havia um grande, com o chapéu de manchas acastanhadas, bem aberto e com o seu anel, esse era comestível. Os amarelos em grupo, outros que pareciam leques, e os mais bonitos… os vermelhos de pintas brancas, lindos, mas muito venenosos.

No bosque da Casa do Ronco havia cogumelos comestíveis, mais conhecidos por chancharinhas, que o avô colhia e trazia para as netas. Eram uma delícia, grelhados na chapa do fogão a lenha. O avô - que conhecia os melhores locais para encontrar cogumelos - quando chegavam as primeiras chuvas, costumava dizer: - Venha chuva para nascerem as chancharinhas!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Uma rosa
















Lá, no cantinho do jardim
pelo muro amparada,
vai trepando a roseira
na glicínia enlaçada.
Embaladas pela brisa,
trocam segredos de cores
murmúrios de aromas,
exibindo belas flores;
Cachos, de doce perfume,
botões, que se espreguiçam
num desabrochar
de pétalas seda lilás.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ondas
















No frio rochedo sentada,
absorta, impávida,
conta ondas a fio
que, encapeladas
se embrulham
sacudindo crinas de espuma branca...
Uma, outra e outra ainda,
galopam até à praia,
desdobram-se na areia dourada
e regressam,
num vai e vem infinito...