segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A curiosidade da Krishna

Era uma vez uma menina morena, de cabelo encaracolado, magrinha, muito curiosa e a quem chamavam Krishna Menone.
(Um dia, ainda vou contar porque lhe chamavam assim!)

Sempre que podia esgueirava-se para a Casa do Ronco. Esperava que toda a gente saísse para o campo e enfiava-se na salita do tio Zé Velho, onde havia uma escrivaninha e uma estante de madeira com portas envidraçadas, bem fechadas à chave, que deixavam ver livros de todos os tamanhos e grossuras. Do que ela gostava mais era de dois volumes de enciclopédias, encadernados a vermelho. Eram livros grandes e pesados que estavam numa das prateleiras mais altas. Para lhes chegar era preciso encontrar a chave que costumava estar numa das muitas gavetas que por ali havia e que o Tio Zé pensava ter bem escondida, não lhe valia de nada, a Krishna encontrava-a sempre…
Depois era só puxar os pesados volumes, impressos a preto e branco, e uma ou outra folha a cores. Das muitas páginas dos dois volumes a menina via e revia apenas as que mostravam a flora e a fauna, assuntos que muito lhe interessavam.

Num deles tinha borboletas, muitas borboletas coloridas grandes e pequenas. No meio das páginas centrais, havia uma grande, de asas alongadas de cor amarela, preta e azul que ocupava quase toda a altura da página. Por baixo de cada uma delas estavam os nomes numa escrita que a menina não sabia ler. Entre todas as borboletas, gostava especialmente de uma pequenina, muito azul que ficava quase escondida entre as outras.
Havia as bandeiras de diferentes países, muito coloridas, com riscas, estrela e luas. A página das penas de aves e a dos cogumelos.

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O que a Krisnha mais gostava de observar, eram os cogumelos - comestíveis e venenosos – de diversas cores e «chapéus» de diferentes formatos. Passava tempos infinitos a admirá-los, o livro até já abria naquela folha! Bem no centro da página, havia um grande, com o chapéu de manchas acastanhadas, bem aberto e com o seu anel, esse era comestível. Os amarelos em grupo, outros que pareciam leques, e os mais bonitos… os vermelhos de pintas brancas, lindos, mas muito venenosos.

No bosque da Casa do Ronco havia cogumelos comestíveis, mais conhecidos por chancharinhas, que o avô colhia e trazia para as netas. Eram uma delícia, grelhados na chapa do fogão a lenha. O avô - que conhecia os melhores locais para encontrar cogumelos - quando chegavam as primeiras chuvas, costumava dizer: - Venha chuva para nascerem as chancharinhas!

4 comentários:

Zinha disse...

Que memória prodigiosa!
Estou a ver as inacessíveis enciclopédias Lello com as suas folhas de papel de missal, mas não tenho tanta presisão quanto ao conteúdo. Lembro-me de vários animais e das bandeiras, mais nada.
Já os cogumelos... sinto o seu sabor que nunca mais senti. Mas que já vi em Guimarães.

Arménia Baptista disse...

Zinha,
A Lello reeditou as enciclopédias, estive a «admirá-las» na livraria, mas não têm o mesmo encanto. Avivaram uma doce saudade...Quase as comprei!
(A Licita ficou com as do Tio, temos de ir lá vê-las!)
Quanto aos cogumelos,já percorri a mata mas não tive a felicidade de os encontrar...Os "Portobelo" que compro no supermercado, são parecidos e o sabor é agradável!
;)

Maria Rego disse...

Esta menina Krishna era bem curiosa de todos os segredos da Natureza...lembra-me uma senhora que eu conheço!!! :-))
Muito linda esta descrição , parece que estou a ver a cena!!!
Bjnhs

Krishna disse...

Maria, para mim, a cena ainda está tão real que até sinto o perfume a sabão de sedas que sempre pairava por ali! :))