domingo, 23 de novembro de 2008

O Jardim do Pomar

Onde está o jardim?
Nada disto era assim!...
Que lhe aconteceu,
como é isto possível,
desapareceu!?
Não, não pode ser,
não há nada aqui
que o faça lembrar?!
Onde está a figueira…
e, a japoneira?
Como era linda…
baixinha,
com todas aquelas flores brancas…
era ali o sítio dela!...
Serão estes ramos secos
o que resta da árvore tão bela!
amarrada,
aprisionada,
asfixiada,
pelo imenso silvado
que se estendeu por todo o lado…
das flores, nem vestígios
provavelmente as primeiras
a sucumbir.
O lilás, a noveleira,
não estão,
e as roseiras, também não,
não resistiram…
aliás, nem se vê o chão!…
Sobrou algum buxo,
o tronco da amoreira,
uma ou outra videira,
decadente, desmazelada.
Morreu também a macieira
ah, ainda sobrevive um castanheiro,
não o velho que conheci,
esse morreu,
mas sim, um novo
que entretanto cresceu.
Resiste o portão de ferro
que se mantém ferrugento,
como sempre o vi.
Que guarda agora,
um silvado?
Triste fado…
…Prefiro que guarde a memória,
do que foi o «meu» jardim…

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Mar

Na Praia

Fui passear
na praia,
descalça, pela areia
branca, macia
que meus pés afaga
numa carícia
lânguida,
demorada,
retardando
a minha chegada à água
límpida,
fria
que me arrepia.
Mas não resisto
ao apelo de me molhar,
com algum desvelo,
não vá escorregar
em algum rochedo
adornado de translúcidas algas
num bailado harmónico,
ao capricho da maré.
Detenho-me
ali de pé
contemplando as anémonas
quais flores,
adejando ao vento
num repetido movimento.
Deixo-me arrastar
pela água do mar,
sem oferecer resistência
a um afago envolvente,
entrego-me,
vou na corrente…

domingo, 16 de novembro de 2008

A Despedida de Uma Tarde

Despede-se a tarde
cálida e lenta
empurrando o sol
para trás do mar
talvez numa tentativa de o afogar!
Indiferente
desliza suavemente
redondo
ardente
tingindo de laranja
um céu de nuvens azul chumbo.
Ainda o sol não caiu
no mar sereno e quieto
e já a lua surgiu
apressada
plena
branca na sua nudez.
Sento-me
numa qualquer esplanada
enlevada
alheia a quem me rodeia
para desfrutar o momento
de tanta beleza
que sempre me encanta
jamais me cansa.
Sinto um arrepio
que não é de frio
mas sim de emoção
por um dia
de final de Verão...

Floresta Nua

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Desalento

Quebraram-lhe o coração,
em cacos pequenos,
de tão pequenos,
não se pode reconstruir.
Estriparam-lhe a alma,
ou a roubaram,
ou foi ela que a perdeu
não viu,
não deu por nada,
estaria a dormir?
Resta agora
um envoltório,
esvaziado,
frágil.
Porque não o leva o vento,
para a sumidade do firmamento?
Perdê-lo, na vastidão do oceano
quiçá nas areias do deserto!?
Sobeja agora dor,
remanesce sofrer…
Para quê, viver?
…Queria ela, saber morrer…

domingo, 9 de novembro de 2008

Na Casa do Mosteiro

Recordo com saudade,
a Casa do Mosteiro,
onde nasci.
Na parte desabitada
que servia de palheiro,
brincava eu, o dia inteiro.
O chão esburacado,
de palha tapado,
fazia as minhas delícias;
Saltos, correrias,
travessuras e tropelias.

Na parte virada a sul,
via eu, um céu azul
através das friestas
que para mim eram janelas,
de todas, as mais belas,
por onde trepavam heras
de lindas folhas verdes,
fixando-se às paredes
amareladas, de granito.
Como tudo era bonito!…

E aquele odor,
libertado pela palha,
acentuado pelo calor,
do sol que se infiltrava
pelos buracos do telhado,
alongando-se pelo chão.
Que saudade da leve fragrância
que me ficou desde a infância,
uma bela sensação,
que lembro com emoção.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Desolação

Na frente da minha janela
tinha uma cortina tão bela
de árvores feita.
Embora não sendo perfeita,
era uma mancha tão verde
que mais parecia uma parede.
Eucaliptos, sobreiros,
carvalhos, pinheiros
e outra vegetação;
giestas, fetos,
rosas
e flores campestres.
Uma mancha tão pequena
mas que valia bem a pena,
ocultava aquela estrada
de que eu não gosto nada,
troço desnecessário
neste nó rodoviário.
Apesar das árvores serem poucas
davam abrigo a pássaros;
pegas, gaios,
melros e poupas,
alguns insectos
e bonitas borboletas.
Mas os homens cruéis
interesseiros insensíveis,
trazem máquinas, serras
e uma grua,
num instante a mata fica nua
deixando ver a imensa rua,
o trânsito a poluição
que me faz grande aflição.
Acabou o sossego,
agora a paisagem mete medo,
cheia de pó
que faz dó,
devastada,
deixa-me destroçada.

sábado, 1 de novembro de 2008

No Douro

Fui de passeio ao Douro
região que é um tesouro.
Montanha
mais montanha
até perder de vista
que paisagem tão bonita
de escadaria infinita
de socalco em socalco
fazendo do rio um palco
qual teatro romano
onde nunca cai o pano.
O rio esse está vazio
de barcos rabelos
pena não pude vê-los.
Está a montanha sozinha
coberta de vinha
alguma amendoeira
uma ou outra laranjeira
e também oliveira
plantada no mortório
para apagar a memória
da praga filoxera
que fez história
no Douro vinhateiro
quase matando
a vinha por inteiro.
Subo a este ponto alto
miradouro natural
de paisagem fenomenal
é de suster a respiração
causa até certa emoção
tanta encosta
repleta de vegetação
como se um tapete
de diverso padrão
cobrisse todo o chão.
Para completar
todo este belo cenário
eis que pára no Pinhão
o comboio centenário
uma bela composição
que atrai a população
enquanto se abastece de carvão
solta um silvo agudo
entre nuvem de vapor
que se espalha
pela redondeza
num quadro
de grande beleza.